Certa vez, quando a noite chamou, a gente, aqui de Vila do Bosque, fez o tradicional ritual, entre sorrisos e casacos quentes, até a querida cachoeira. Naquela noite, além da lua cheia enfeitando o céu, as corujas fazendo seu alarde e os morcegos dançantes improvisando novos passos, na cachoeira, flagramos a cena mais bonita que a gente, aqui de Vila do Bosque, já viu. Dentre as águas que caíam, abriu-se passagem, entre pedras e águas violentas, uma estrada ladrilhada que levava a um abrigo. Os ladrilhos refletiam a luz que vinha lá de dentro. Não me agüentava de excitação e quis ser a primeira a entrar e ver o que havia de especialmente bonito lá. As águas, naquela noite, estavam especialmente velozes e desreguladas; causavam medo. Mas antes que eu pudesse dar o primeiro passo para entrar naquela abertura, uma mulher, aqui de Vila do Bosque, de um salto se precipitou para dentro do abrigo. Naquele instante, as águas se fecharam numa cortina cantante improvisada, enquanto as corujas guardavam a entrada e os morcegos continuavam fazendo sua apresentação impecável. Lá de dentro, a gente ouvia gargalhadas gostosas, risadas satisfeitas e um canto encantador. A partir desse dia, a cachoeira se tornou colorida e encantadora. Agora, a gente, aqui de Vila do Bosque, não vai mais ver a cachoeira só quando a noite bonita chama. A gente, aqui de Vila do Bosque, vai sempre que precisa se encantar.
Hoje é dia que a noite bonita nos chama pra assistir ao espetáculo. E hoje, a gente, aqui de Vila do Bosque, decidiu ficar até o sol dourado e quentinho aparecer e dizer que é hora de ir dormir e deixar aquela bela mulher descansar da noite cantante.
historieta narrada por (H)
2 comentários:
A cachoeira da Vila e seu ladrilho. Esses caminhos sem fim, que vão povoando, nossa aberta imaginação para tempos ou lugares distantes. De São Tomé das Letras nos Gerais à Machu Pichu, o Caminho de Peabiru em largo declive dos Andes até o Atlântico, e o gosto de ouro em pó na boca de Cabeza de Vaca. "A cachoeira, aqui de Vila do Bosque", tem a força dum Galeano e a imaginativa do Borges.
Postar um comentário