quinta-feira, 9 de julho de 2009

Trinca

E Manoel Duda perdeu as bolas. Isso pra essas estâncias é pecado mortal, é pior que mutilação. Pior que perder braço, perna; comparado à vida mesmo. Dizem que Deus não gosta dessas sangrias; que o sangue de baixo é mais sagrado... vai saber!

Mas pior que isso aqui, só ficar de chumbregâncias com sujeito perto da fonte. Nessas vilas pequenas, onde o que o pai fala deve ser levado como missa, causos como esse sempre levam esse fim.

Vê quem ia entender que Manoel Duda, cabra de culhão respeitado, mulherengo de marca maior, tava de paixonite pelo Nocreto Correia?! Só o Norberto Barbosa, que também caía em dengos com o bonitão. Afinal, Nocreto era fazendeiro, viúvo, sem filhos, alto, com cheiro de cabra macho... mas era só o cheiro.

Sucedeu que o Manoel Duda, depois do imprevisto com Quitéria e Clarinha foi aparado pelo nobre Nocreto. Duda passou a ser peão da fazenda e já havia inté se mudado pra lá. Norberto Barbosa, da vendinha da vila vizinha, já tava enciumado e achando que ‘tinha caroço nesse angu’. Quando descobriu as chumbregâncias dos dois, foi tirar satisfação com Nocreto – que era dele, antes de aparecer um cabritinho mais moço.

Nocreto apresentou os dois. Depois de muito ciúme, passaram a viver juntos; os três. E eles iam, em muitas vezes, à fonte, onde conversavam e, abraçados, ostentavam aquela natureza bonita que Deus tinha dado pra eles...

No dia do ocorrido, tava quente por demais e eles não pensaram duas vezes em ir à fonte, ouvir o barulho da água e se refrescarem juntos. Mas não agüentando os hormônios e a adoração, saíram os três de ‘lesco-lesco’ pelas pedras. Liodalva, que ia em direção da fonte pra fazer sua oração, ouviu um barulho estranho. Chegou mais perto, atrás da moita, e gritou com o que viu. Os três se assustaram e logo trataram de explicar pra bela Liodalva o que acontecia.

Liodalva, carola e intolerante que é, resolveu acusar o primeiro que vira pela frente, e fazê-lo pagar por aquele pecado-de-morte que cometiam. E, em nome de Deus, rasgou as roupas e berrou com todas as forças. A multidão que vinha atrás dela correu para ver o que acontecia. Duda tomou a culpa em amor aos dois e disse ser o feitor daquilo. Os dois foram as testemunhas do falso acontecido.

A história foi aceita, mas ainda muita coisa rolou; inclusive, as bolas do Duda, coitado. E, por pouco, não foi também a cabeça de Liodalva, que não agüentando a pressão da consciência, fugiu; já desquitada de Xico Bento.


historieta narrada por H.

Um comentário:

Taiane Maria Bonita disse...

Santa Rita do Passa Quatro!